quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Reunião medíocre


            A confraternização chegou ao fim. Mais uma das constantes reuniões despretensiosas, que eram realizadas com frequência na casa dessas pessoas que se conheciam há muito tempo, havia sido encerrada sem que alguém estivesse demasiado bêbado ou feliz; sem que alguém se encontrasse em um estado de irritação colérica ou em um estado de paz inabalável. Ninguém aprendeu alguma coisa nova, ninguém conseguiu adquirir informação para aprimorar seu modelo de funcionamento das coisas, ninguém discutiu, ninguém ficou ressentido com algo que foi dito — e se ficou não deixou transparecer, pois, durante as poucas horas em que esses amigos se reuniram, todos mantiveram expostos seus belos e radiantes sorrisos brancos —, ninguém exagerou na bebida, ninguém ampliou suas perspectivas com relação à vida; mais uma vez, as principais notícias da semana foram debatidas de maneira superficial e preconceituosa, alguns casos e fofocas fúteis foram contados e alguns objetivos de vida medíocres foram defendidos e exaltados por todos os integrantes da reunião. Dessa vez, o grupo de amigos conseguiu permanecer unido por quatro horas, o que era um recorde, eles nunca antes haviam conseguido se suportarem por tanto tempo.
            O opulento quintal, no fundo da casa, onde constantemente eram realizadas essas reuniões, possuía ornamentos belos e impecáveis, sendo eles distribuídos de forma homogênea e minuciosa; toda a harmonia e beleza estonteante eram provenientes de um projeto arquitetônico caro e que foi exaustivamente planejado, além do interesse especial por parte dos donos da casa, que para suprirem suas ausências interiores, encontravam as mais variadas distrações, sendo a manutenção da beleza do quintal a atividade predileta entre os moradores da casa. A família que morava ali era constituída por pais que se casaram relativamente cedo, e por duas filhas, sendo que uma delas já havia se casado e não morava mais ali. A filha mais nova, que tinha em torno de 27 anos, era uma pessoa de natureza apagada, alguém que nasceu póstumo e com a contribuição da imposição dos pontos de vista diminutos e incoerentes, provenientes dos pais e das imposições sociais, essa mulher desenvolveu um tipo de existência que poderíamos caracterizar como sendo uma espécie de anti-vida, que nutria apenas aquilo que era absurdo e desprezando e ridicularizando qualquer coisa um pouco mais elevada.
            Preferencialmente, as confraternizações eram realizadas na casa dela, todos os integrantes do grupo eram unanimes em admitir que aquele era o local mais belo e confortável, características que o tornavam o lugar ideal para que fossem realizadas as reuniões.
            Mesmo com suas limitações evidentes, a dona da casa aparentava possuir muito dinheiro, o que a tornava uma das pessoas mais influentes do grupo, tendo sua opinião valorizada em demasia e até mesmo sendo copiada em alguns aspectos pelas colegas.
            Algumas vezes, essas pessoas se empolgavam e conversavam sobre aquilo que eles consideravam como sendo a vida, mas que seria classificado de maneira diferente por qualquer observador externo, mesmo sendo ele dotado de uma capacidade mínima de discernimento. Eles eram um grupo de jovens que abandonaram qualquer tipo de senso crítico, que diminuíram e distorceram suas perspectivas até não poderem mais, que se enfraqueceram, jogando toda a sua fibra, seus pensamentos próprios e sua força de vontade por água abaixo, desvalorizando as únicas características que nos tornam seres humanos evoluídos. Esse tipo de reunião cadavérica — que é cada vez mais comum entre os jovens — é capaz de fazer qualquer ser humano de verdade chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário