segunda-feira, 15 de junho de 2015

Tentando entender o que não nos permitem entender

Com um olhar profundo ele avança pela calçada, diferenciando-se dos demais transeuntes. Ele se destaca, e isso era absurdamente evidente; posso afirmar, de forma convicta, que aquele sujeito incomum possuía um “não sei o que”, era uma característica que foge à nossa compreensão, mas que, no entanto, é absolutamente necessária para nós.
É difícil até mesmo tentar transmitir as sensações que aquele indivíduo incomum suscitava em quem o observava. Apenas olhá-lo incitava um turbilhão de sentimentos, todos eles sendo magníficos. Era um “não sei o quê”, realmente era isso, acho que essa é a melhor maneira de explicar; será que consegui me fazer entender?
Acho que a pergunta foi um tanto quanto desnecessária, obviamente não consigo me fazer entender. Preciso formular, de uma forma precisa, a minha impressão; tarefa essa que me é difícil, por nem mesmo eu entender o melhor modo de descrever aquilo que vi; mas vamos lá, quem sabe eu consiga, através da escrita, encontrar os verdadeiros motivos que tanto me agradaram naquele ser incomum. A escrita já me proporcionou epifanias que alteraram a minha concepção para sempre, espero que dessa vez ocorra o mesmo, desejo muito que ocorra o mesmo! Aquele indivíduo preencheu alguma carência profunda, ele parecia conhecer e saber lidar com tudo aquilo que tanto me incomoda; entender aquilo que ele suscitou em mim seria o mesmo que que entender a vida, entender tudo. Pode parecer exagero, mas essa é realmente a forma que penso; por um breve momento me senti mais próximo, do que nunca, de saciar todos os meus desejos, de encontrar tudo aquilo que, de forma inconsciente, eu sempre quis.
Com o celular desligado, e afastado de qualquer tipo de distração, concentrei-me em reproduzir a cena que presenciei, dessa vez transmitindo tudo aquilo que vinha, à minha cabeça, para o papel. Sentindo-me guiado por uma tarefa que prometia recompensar-me com satisfações inimagináveis, comecei a escrever avidamente, cheio de ímpeto, cheio de vontade.
No entanto, essa tarefa, à qual me propus, cheio de vontade, mostrou-se extremamente desgastante e complexa; após algumas horas de reflexão o papel permanece praticamente em branco, algumas frases desconexas foram escritas, mas ainda não transmitem meu verdadeiro sentimento, consigo perceber isso claramente. Para ser sincero, acho que não consigo encontrar palavras que sejam capazes de racionalizar e ordenar aquilo que sinto; em minha mente o sentimento permanece desconexo por não ser eu capaz de classificá-lo. Essa característica me irrita, ela me irrita muito! Uma sensação que a minha linguagem não é capaz de classificar e de integrar ao meu conhecimento, que não me é possível assimilar de forma racional; essa característica traz uma inquietação escandalosa para a minha mente; é o mesmo que uma percepção incompreensível, que somos capazes de sentir, mas incapazes de classificar e integrar ao nosso conhecimento. Essa característica de incerteza e de possibilidades ilimitadas me incomoda; sempre me pego desenvolvendo, de maneira irracional, tudo aquilo que vejo e que não sou capaz de classificar de forma racional. Meus desenvolvimentos absurdos me irritam; eles são sempre exagerados e criam expectativas absurdas, que obviamente não existem, mas que, mesmo com a incoerência gritante, são difíceis de serem corrigidos e controlados.
Escrever sobre aquele indivíduo incomum começou a me incomodar muito; eu não possuía conhecimento suficiente para classificar o que percebia; acho que era por causa da falta de outras pessoas como aquela, o motivo pelo qual eu não conseguia abordar o tema em questão com mais frequência. Grande parte das pessoas que encontro me suscitam sentimentos péssimos; dessa forma, como posso eu entender uma influência tão bela em meio às impressões abjetas que sempre encontrei, e que estruturam o meu pensamento? Talvez seja impossível, mas só de perceber emergir um sentimento belo já faz com que me sinta melhor e mais evoluído do que a maioria das pessoas que conheci. Em meio aos pensamentos que surgem na minha mente, talvez a descoberta de belos sentimentos em mim seja a única coisa satisfatória; de resto sinto-me péssimo, minha mente vagueia em meio às minhas percepções incompletas e cheias de possibilidades. Percebo que várias sensações exageradas começam a ser construídas. Ah, como isso me irrita.
          Por fim, após perceber minha ineficiência em entender meus sentimentos e ver que minha mente começou a desenvolver, de forma inconsciente e exagerada, aquilo que me esforcei para tentar compreender , percebo que a tarefa à qual me propus foi decepcionante. Não fui capaz de definir nada de concreto, e terminei por adquirir ilusões que ainda me incomodarão muito. O meu ambiente e o conhecimento que possuo não permitem a compreensão daquilo que senti; queria encontrar mais pessoas como a que encontrei hoje, queria interagir com elas, conviver com elas, ser como elas. Essa quimera percorreu minha mente por muito tempo, mas já estou próximo de desconstruí-la; esses eclipses raros, que sentem a vida de forma abrangente, que vivem corajosamente, que parecem não ser incomodados por nada, devem ser observados com desatenção, e devem ser acompanhados por uma bebida que nos ajude a esquecer. Eles são experimentos que deram errado, são seres que não se adaptaram à nossa antinatureza. São tão cheios de vida, de ímpeto, de energia, de vontade e, ao mesmo tempo, indiferentes... Isso não pode ser normal.

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